Quando Tara Verde Encontrou as Deusas do Báltico
- rosanevf0
- 20 de nov.
- 4 min de leitura

Existe uma divindade nascida das lágrimas da compaixão sentida ao testemunhar o sofrimento do mundo. Uma figura que escolheu manter sua forma feminina para libertar todos os seres, desafiando tradições milenares. Essa é Tara Verde, uma das presenças mais reverenciadas no budismo tibetano, e também uma divindade que escolhi incluir na trilogia Árvore de Família. Sei que pode parecer inusitado: o que uma divindade oriental está fazendo em uma narrativa que nasceu das mitologias wendish, eslava e báltica? A resposta revela algo fundamental sobre minha jornada espiritual e sobre como construí este universo.
A origem mística de Tara Verde
Conta a lenda que Avalokiteshvara, o bodisatva da compaixão, chorou ao contemplar o sofrimento interminável dos seres sencientes. De suas lágrimas nasceu um lago, e desse lago emergiu uma flor de lótus. Quando a flor se abriu, revelou Tara Verde, uma manifestação pura de compaixão ativa e proteção imediata.
Mas a história que mais me tocou foi outra. Tara Verde começou sua jornada como uma princesa que alcançou alta realização espiritual. Quando monges sugeriram que ela deveria reencarnar em corpo masculino para atingir a iluminação, ela recusou. Sua resposta ecoou através dos séculos: prometeu manifestar-se eternamente em corpo feminino para libertar todos os seres do sofrimento. Como mulher, esse voto de permanecer em forma feminina sempre me comoveu profundamente.
A simbologia da compaixão
Cada aspecto de Tara Verde carrega significado profundo. Sua cor verde não é acidental, representa a compaixão em movimento, a ação imediata para socorrer aqueles que sofrem. Diferente de outras divindades meditativas, Tara é retratada com um pé estendido, sempre pronta para se levantar e auxiliar. É a protetora que não hesita.
Seu mantra sagrado, "Om Tare Tuttare Ture Soha", funciona como um escudo contra medos internos e externos. Tara é, simultaneamente, mãe protetora e guerreira compassiva, uma combinação rara de força e ternura que sempre me inspirou.
Por que a Tara Verde está em Árvore de Família
Aqui chegamos à questão que sei que intriga: como uma divindade do budismo tibetano encontrou seu lugar em uma narrativa enraizada nas mitologias wendish, báltica e pomeranas? A resposta é honesta e simples: porque minha própria vida espiritual é assim.
Não criei Árvore de Família apenas a partir de pesquisas acadêmicas sobre culturas do Mar Báltico, embora tenha feito anos de estudo rigoroso sobre essas tradições. Criei também a partir de quem eu sou, das experiências que vivi, dos conhecimentos esotéricos e espirituais que acumulei ao longo de décadas. E a Tara Verde faz parte dessa jornada.
Sou uma livre-pensadora. Espiritual, mas não religiosa. Minha busca nunca se limitou a uma única tradição. Estudei mitologias wendish, eslavas e bálticaporque essas culturas me fascinaram. Mas também estudei budismo e astrologia, assim como investiguei o esoterismo de diversas fontes. Minha espiritualidade é livre, plural, sem dogmas, e é exatamente isso que espero refletir na minha obra.
O Templo que Tocou Minha Alma
O budismo não está na minha obra apenas através da Tara. O Templo Budista Chagdud Gonpa Khadro Ling, localizado em Três Coroas no Rio Grande do Sul, também aparece como local de proteção na narrativa. Não como cenário decorativo, mas como espaço real que visitei, onde senti a força espiritual daquele lugar.
Escrevo a partir do que vivi, do que me transformou. Quando incluo o templo Chagdud Gonpa na trilogia, estou compartilhando um pedaço da minha própria experiência espiritual. Há reverência nesse gesto, há autenticidade, há respeito.

Quando a fantasia reflete quem somos
Percebi, ao longo dos anos escrevendo esta trilogia, que o meu caminho para escrever fantasia com profundidade não poderia se limitar a uma única tradição cultural. Tenho como objetivo demonstrar na minha obra o reconhecimento de que sabedorias universais ecoam em diferentes povos, com diferentes nomes e formas, mas essência similar.
A Tara Verde, no contexto de "Árvore de Família", não é apenas uma referência budista. Ela é a manifestação de um arquétipo de proteção feminina que ressoa através de várias culturas. Quantas tradições possuem figuras protetoras femininas? A Mãe Divina em diversas formas, deusas guardiãs, espíritos protetores. O que muda são os nomes e as histórias específicas. O que permanece é a necessidade humana de sentir-se protegido por uma presença compassiva e poderosa.
Ao incluir Tara e referências de outras culturas junto com mitologias da região do Báltico, aprofundei a história que queria contar. Porque é assim que vivemos hoje, culturas dialogando, conhecimentos espirituais circulando, tradições se encontrando.
Uma das coisas que mais defendo é a liberdade individual. A autonomia do pensamento. O direito de cada pessoa trilhar seu próprio caminho, inclusive espiritual, sem ser aprisionada por expectativas externas.
Quando coloquei Tara Verde em uma narrativa com forte influência das culturas do Mar Báltico, exerci essa liberdade.
Um convite à pluralidade
O que Árvore de Família oferece, através da presença de diversos símbolos espirituais e mitológicos, é um convite. Um convite para honrar culturas diferentes das nossas. Para misturar referências de forma respeitosa, coerente e profunda.
Para você que busca fantasia com camadas simbólicas autênticas, isso significa ler uma obra onde cada elemento foi escolhido com propósito. Para você que lê sobre culturas pouco conhecidas, significa descobrir como essas culturas podem dialogar com outras tradições sem perder sua essência. Para você que está cansado de fórmulas superficiais, significa encontrar uma autora que não tem medo de mostrar sua complexidade.
Minha verdade na narrativa
Sou Rosane da Veiga Faria. Comecei a escrever profissionalmente após os 50 anos. Sou livre-pensadora, geek, exploradora de culturas e espiritualidades.
E você, está pronto para mergulhar em uma fantasia que não tem medo de mostrar sua complexidade? Uma narrativa onde divindades budistas conversam com mitologias bálticas, onde o sobrenatural é plural, onde cada elemento carrega significado autêntico? Explore a trilogia Árvore de Família. O convite está feito — e é genuíno.
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