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Mulheres Pomeranas



Trabalhar na construção das personagens mulheres do livro foi um desafio gratificante. Haviam muitos elementos interessantes a serem introduzidos a partir da cultura pomerana. Eu falo sobre esse assunto através dos olhos de Petra, que é orgulhosa de ser como é, mas aos poucos vai mudando, se adaptando ao mundo moderno, como todas as mulheres oriundas do campo.


O livro traz também mulheres de outras origens, como Naara, uma médica mestiça (pai mulato e mãe italiana) extremante correta e batalhadora que está sempre em busca de se encaixar no sistema; ou Biba, uma fotógrafa mística que herda uma casa na zona rural de Santa Catarina – onde muita coisa acontece.


De certa forma, todas carregam algum traço (força, misticismo, fé ou senso de justiça) que remete de certa forma às características da mulher pomerana. Confira nesta terceira cápsula de conteúdos alusiva aos pomeranos algumas das características dessas mulheres que tanto respeito. Antes disso, contudo, se faz necessário um breve esclarecimento.

  

Quando falamos em cultura x sociedade é importante esclarecer que sociedade envolve pessoas com objetivos comuns, mas a cultura remete aos costumes de um povo. Os pomeranos perpetuam até hoje muitos de seus hábitos e costumes, por isso são reconhecidos como Povo Tradicional através do Decreto 6040/2007 (Brasil, 2007) – embora a Pomerânia não represente mais uma unidade geográfica. Cultura pode e deve ser transmitida, e isso é prioridade para esse povo, especialmente para as mulheres. 


Quem são elas....


O modelo conservador de família imperava nas famílias camponesas pomeranas, assim como em todas que vêm do campo. Essa herança cultural colocava as mulheres em dupla ou tripla jornada de trabalho, tendo que conciliar a vida em casa e no campo; elas eram as primeiras a se levantar para fazer o serviço de casa e cuidar dos filhos, depois acompanhavam os maridos e filhos adultos no trabalho da lavoura, mais tarde faziam almoço, jantar e cuidavam novamente do trato dos filhos antes de dormirem. Um dos maiores deveres da mulher pomerana era a alimentação de sua família.  


Petra, por exemplo, toda quarta-feira descascava e ralava batata-doce, cará, inhame e mandioca, misturava na massa de fubá de milho e fazia pão em quantidade suficiente para abastecer a família e ser vendido na feira das sextas-feiras e dos sábados, assim como outros quitutes entre cucas e biscoitos. Neste momento, ela cuidava o leite fresco, que estava sendo fervido sobre o fogão a lenha. Leite gordo tirado a pouco por ela mesma de uma cria do seu dote de casamento: uma vaquinha.


O dom para a cozinha, aliás, era uma das características marcante dessas mulheres. A comida típica chama atenção até hoje, pois ainda se mantém a tradição de preparar os próprios alimentos com receitas de família.


Confira se já experimentou alguns desses pratos e compartilhe com a gente o que acha da gastronomia pomerana: brot (pão de milho, preparado com batata doce, cará, aipim e fubá de milho branco ou amarelo), spitsbuben (bolo Ladrão), kasekuchen (bolo de queijo), streuskuchen (bolo com farofa), Strudel (bolo com frutas), biscoitos caseiros de nata, polvilho ou amanteigado; entre as comidas salgadas, destacam-se: linguiça de carne de boi, queijo tipo puina e chmierkase (coalhada), Blutwurst (chouriço feito de sangue e miúdos de porco), batata ensopada, sopas (canja, aipim cozido e socado, batata doce socada, sopa com rosca), Strudelteig (massa com banana prata no recheio); entre as comidas doces, ressaltam-se: firsichup (sopa de ameixa), arroz doce, banana-nanica assada, geleias de frutas da região.


Religião


Na Igreja, mulheres sentavam de um lado e os homens, do outro. E isso era normal na época. As mulheres pomeranas eram religiosas, boas cristãs de maioria luterana. Também não gostavam de aventuras ou novidades, caminhando quase sempre pela vereda mais segura e próxima de Deus.


Inicialmente, eram excluídas na distribuição da herança, pois as filhas não recebiam herança dos pais. Isso mudou com o tempo. O advento da Segunda Guerra Mundial e da Revolução Industrial mudaram significativamente o cenário. Elas passaram a trabalhar fora e até a assumir os negócios da família. Mas, entre os pomeranos, o trabalho, o comércio e o cotidiano eram os temas preferidos pelos homens; crianças, casa e religião, por sua vez, eram considerados assuntos de mulher.


É importante frisar que esta mulher sempre demostrou enorme força e fé diante das adversidades da vida. Viver na Pomerânia estava insustentável. A travessia da Europa ao Brasil foi muito sofrida, com viagens feitas à vela por seis a sete semanas. A chegada foi dura, numa terra estranha, sem falar o idioma e em completo isolamento do resto das pessoas. O que salvou essas mulheres foi a sua força e o fato de as famílias pomeranas serem muito unidas, alegres e trabalhadoras. E pensar que elas prezavam uma existência estável e pacífica.


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