Como me tornei autora de literatura fantástica no Brasil após os 50 anos
- rosanevf0
- 5 de nov.
- 4 min de leitura

Há uma certa magia em começar tarde. Não a magia dos feitiços prontos, mas aquela que nasce da coragem de desafiar o tempo e as expectativas alheias. Quando publiquei meu primeiro livro após os 50, não estava seguindo um roteiro de sucesso ou uma fórmula de mercado. Estava, simplesmente, reivindicando meu direito de existir como criadora (e de fazer isso do meu jeito, sem pedir licença).
Esta é a história de como me tornei autora de literatura fantástica no Brasil depois dos 50, sem seguir tendências, sem abrir mão da complexidade e sem me curvar aos preconceitos que ainda cercam tanto o gênero quanto os autores independentes.
A fantasia que ninguém levava a sério
Durante anos, carreguei comigo o desejo de escrever. Esse desejo apareceu em diversos textos engavetados e ideias que nunca saíram da minha mente.
Quando a minha imaginação começou a tomar forma em parágrafos e capítulos, eu iniciei minha jornada pelo mundo da fantasia. Eu não dei atenção ao o mercado editorial brasileiro, que sempre tratou o gênero como literatura menor — coisa de adolescente, escapismo barato, falta de seriedade intelectual.
Eu não sou a única que vejo a literatura fantástica ser negligenciada no Brasil. Se você olhar para o lado, vai perceber que repetidamente autores brasileiros talentosos são ignorados enquanto traduções estrangeiras dominam as prateleiras. A mensagem é clara: fantasia brasileira não vende, não importa, não existe.
Mas existe. E sempre existiu.
O problema nunca foi a qualidade ou o potencial da literatura fantástica no Brasil. O problema era — e ainda é — um mercado que não aprendeu a valorizar o que produzimos aqui. Um sistema que prefere importar fórmulas prontas a arriscar em vozes autênticas que falem de nossas próprias raízes culturais.

Cinquenta anos e um sonho antigo
Eu sempre fui aquela criança que não largava os livros. Sempre conto que eu lia até enquanto caminhava pela rua (sim, já fui atropelada por causa disso). Eu era aquela que se escondia nos livros quando os amigos queriam brincar. Cresci cercada de mundos imaginários que moldaram minha imaginação e meu senso do que a literatura poderia fazer.
Mas a vida acontece, não é mesmo? Fui secretária, vendedora, gerente financeira, mãe em tempo integral. Cursei Biblioteconomia na UFRGS. Trabalhei, paguei contas, criei minha filha. O sonho de escrever ficava sempre ali, sussurrando no fundo da mente, esperando sua vez.
Até que chegaram os 50. E com eles, uma pergunta inevitável: se não agora, quando?
Não houve insight cinematográfico. Houve, sim, uma decisão consciente de parar de esperar permissão (da idade, do mercado, da sociedade) para fazer o que sempre quis. Decidi que se ninguém ia publicar a fantasia brasileira que eu queria ler, eu mesma a escreveria.
Sem fórmulas, sem concessões
Quando comecei a escrever a trilogia Árvore de Família, sabia que estava nadando contra a corrente. Não queria fazer "mais uma fantasia jovem adulta" com romance previsível e plot twists telegrafados. Não queria copiar sagas estrangeiras ou adaptar mitologias batidas.
Queria criar algo único: uma fantasia contemporânea que mesclasse todos os meus conhecimentos esotéricos com algo novo. Foi aí que descobri a cultura pomerana e mitologias bálticas. Essas tradições pouco conhecidas no Brasil, mas que fazem parte da nossa cultura através dos imigrantes. Queria personagens complexos, ambíguos, que enfrentassem dilemas reais sobre poder, liberdade e identidade.
Passei dez anos pesquisando, escrevendo, reescrevendo. Desenvolvi meu próprio método, sem seguir manuais de escrita criativa ou workshops da moda. Mergulhei em mitologias wendish, lendas do Mar Báltico, folclore pomerano. Mesclei tudo com o que eu já sabia de esoterismo, astrologia, arquétipos. Construí um universo que fosse ao mesmo tempo fantástico e profundamente humano.
E fiz tudo isso sem abrir mão da minha liberdade criativa.
Narrativas culturalmente autênticas
O Brasil é imenso, multicultural, repleto de tradições que merecem ser exploradas na fantasia. Aqui entram não somente as nossas culturas nativas, mas as trazidas por outros povos que imigraram para cá. Muitas delas, como a cultura pomerana, permanece invisível para a maioria dos brasileiros, apesar de terem moldado regiões inteiras. As mitologias wendish, eslava e báltica são praticamente desconhecidas, embora sejam riquíssimas em simbolismo e narrativa.
A ideia de ter uma cultura pouco conhecida com uma conexão direta com o Brasil, me agradava. Eu não queria escrever somente sobre mundos inventados, queria que minha história se passasse também aqui, no nosso país. A literatura fantástica no Brasil pode — e deve — falar sobre quem somos.

Literatura fantástica no Brasil: um futuro possível
O cenário está mudando. Cada vez mais leitores brasileiros buscam fantasia que dialogue com sua realidade cultural. Cada vez mais autores independentes provam que é possível criar trabalhos de altíssima qualidade fora do circuito tradicional.
A literatura fantástica no Brasil está deixando de ser invisível. Estamos construindo, coletivamente, um espaço onde narrativas autênticas, culturalmente enraizadas e intelectualmente desafiadoras podem florescer.
Não será fácil. Ainda enfrentaremos preconceito, invisibilidade, barreiras de acesso. Mas cada livro publicado, cada leitor conquistado, cada história contada é uma vitória contra a ideia de que nossa fantasia não importa.
A reinvenção é possível (e necessária)
Se há uma mensagem que quero deixar com esta história, é esta: nunca é tarde para começar. Nunca é tarde para reivindicar seus sonhos. Nunca é tarde para criar algo que só você pode criar.
A sociedade nos ensina que aos 50 já deveríamos estar "estabelecidos", que criatividade é para os jovens, que reinvenção é um luxo inacessível. Mas isso é mentira. A verdade é que a maturidade traz algo que a juventude não tem: perspectiva, profundidade, coragem de ser autêntico.
Escrevi minha trilogia com a bagagem de décadas de leitura, de experiência de vida, de reflexão sobre o mundo. Criei personagens que enfrentam dilemas que só alguém que viveu pode imaginar com essa densidade. Construí um universo que reflete não apenas imaginação, mas sabedoria acumulada.
E fiz isso sem pressa, sem medo de ser "relevante", sem tentar agradar a fórmulas de mercado.
E deixo aqui meu convite: conheça Árvore de Família – uma trilogia de fantasia contemporânea que entrelaça mitologias wendish, eslava e báltica, cultura pomerana e reflexões profundas sobre liberdade. Porque fantasia não é escapismo, é o espelho mais honesto que podemos segurar diante da realidade.
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Gosto muito de livros místico tanto nos livros como em filme mas os filmes quase não passa mas e livros pra mim no momento estão saindo muito caro na época que eu trabalhava poderia até comprar mas doente e desempregada fica difícil obrigada